OASRN

#649

Desenhar por Palavras, Bruno Rêgo

Semana 48

01 CONCURSOS
Desenhar por Palavras, Bruno Rêgo


Imagens © direitos reservados.

Até 31 de Dezembro 2015 | A Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos - OASRN desafia os seus membros a partilharem conhecimentos, experiências, reflexões e opiniões através da submissão de artigos de opinião. O tema é único: Arquitectura.Damos conhecimento do artigo seleccionado com a autoria do Arquitecto Bruno Filipe Valente do Rêgo, "Amor Combate".

Esta iniciativa tem o patrocínio da Axa Portugal e do Banco Carregosa.

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Titulo: "Amor Combate" | Autor: Bruno Filipe Valente do Rêgo

Data: 30 de Outubro de 2015, Rio Tinto

Ganho coragem, em mais um intervalo entre a euforia e o desânimo, entre a vontade de fazer e o cansaço do fazer, de ser ou não ser arquitecto, de estar ou não na arquitectura, a coragem para combater a frustração do tempo austero em que vivo, onde tento trabalhar, onde tento criar.

Escrevo esta confissão de experiências para o bem do meu estado de alma, assim como para a partilha de pensamentos para quem possa vir a ler estas palavras, para quem como eu, se apaixonou pela arquitectura, através de depurados ensinamentos, quer pela admiração dos grandes mestres, ou pela procura do desenho poético no acto de projectar. (imagem 1)

Assim como para aqueles que precisam saber o que é amar, viver, sentir esta disciplina, dar a conhecer a sua importância, e a dificuldade da sua prática nos dias de hoje, esta é a questão primordial pela qual afinco as seguintes palavras em tom de desabafo.

Hoje, e nos dias que se precederam é corrente ouvir dizer que existem arquitectos a mais, mas permitam-me discordar, o que há a mais é uma desmedida falta de cultura arquitectónica na sociedade portuguesa.

Ora vejamos, esta falta existe e foi alimentada ao longo da nossa história recente, onde o fundamento era que existiam arquitectos a menos, e por esse motivo se permitiu a não arquitectos o acto de projectar.

Como tal, a simplificação de processos, passou a ideia para a mais comum das pessoas que o arquitecto era complicado e dispendioso, ou seja, para a grande parte da nossa sociedade, fomos rotulados de um luxo e não uma necessidade.

A realidade é que nas últimas décadas a grande parte dos licenciamentos camarários foram obtidos por técnicos sem a formação adequada para fazerem arquitectura.

Resultado, anos e anos de construção de interesse duvidoso, décadas onde a exigência do rigor construtivo e a exaltação do desenho, foram colocados para segundo plano. (imagem 2)

Curiosamente foi também neste período que surgiram grande parte das obras que se tornaram referência da arquitectura portuguesa, que deram a conhecer o enorme talento dos arquitectos deste nosso pequeno país, que conseguiu alcançar dois prémios Pritzker, poucos conseguiram este feito. (imagem 3 e 4)

Esta constatação quase que esquizofrénica, permite-me pensar que quando existe respeito pelos conhecimentos adquiridos por um profissional, respeito por uma profissão, e quando cada interveniente interpreta o seu papel, a arquitectura da alma e do pensamento prevalece, enaltecendo o objecto, a obra.

Respeito, este elemento tão essencial, falta e muito na nossa sociedade, o que faz com que o trabalho do arquitecto seja cada vez mais difícil de gerir, tão precário, demasiado desgastante, e que nos leve a pensar que somos muitos para tão pequeno espaço.

Esta patologia cultural elimina-nos do processo, avança nas etapas, fica a mercê dos interesses dos que apenas constroem, da especulação imobiliária, dos que viram na arquitectura apenas mais uma fonte de rendimento, todos eles ausentes do mais elementar e primordial acto, o pensamento do projectar. (imagem 1)

A coragem que procuro neste desabafo permite-me descrever esta realidade dura, sem pretender ser pessimista, ela faz com que não desista, faz com que tenha energia para contrariar a situação, e acima de tudo mantém o amor.

O amor pela arquitectura, o amor que nos ajuda a combater, que mantém o nosso dever de contagiar todos a nossa volta, familiares, amigos, vizinhos, conhecidos, desconhecidos, para a sua importância na vivência e desenvolvimento da sociedade, para beleza que ela nos propicia e que nos eleva enquanto seres humanos.

Esse contágio é fundamental para eliminarmos os estereótipos criados, para clarificarmos os nossos modos de actuação, assegurando um discurso entendível, objectivo e prático, voltado para os demais que nos rodeiam e não apenas para o nosso seio profissional.

Pois não podemos cair na ilusão de acharmos que os nossos problemas advêm apenas e só da crise económica/financeira, essa crise sempre esteve presente, a ela nos habituamos, a outra e verdadeira crise que nos afecta é cultural.

Como tal, Intitulo este desabafo de Amor combate, titulo pertinente que retiro de uma musica dos Linda Martini, que me ajuda a reforçar a ideia para passar a palavra, pois só nós arquitectos/as podemos e devemos combater esta patologia, pois mais ninguém o fará.

 

Só nos resta este caminho, esta estratégia, para enfrentar a batalha, e – “se o nosso amor é um combate, então que ganhe a melhor parte” - a Arquitectura, para podemos ouvir dizer que vivemos num país onde os arquitectos não se sentem a mais e não estão a mais, neste tão pequeno mas maternal espaço, o nosso Portugal, ainda com tanto por fazer.

Ilustração

01. Pensar desenhando, o acto de projectar - Desenho do autor

02. Décadas de construção desregrada, ausente da intervenção do arquitecto/a, Gondomar – Fotografia do autor.

03. SAAL – Bouça, 1977-2006, Álvaro Siza Vieira – Fotografia/ Fernando Guerra.

http://www.archilovers.com/projects/32199/saal-bouca.html

04. Casa na Serra da Arrábida, 1994-2002, Eduardo Souto Moura – Fotografia/ Luís Ferreira Alves. http://divisare.com/…/287588-eduardo-souto-de-moura-luis-fe…

Editor
Pedro da Rocha Vinagreiro e Isabel Santos Silva

Contacto
mensageiro@oasrn.org

O "Mensageiro" é um correio electrónico semanal da Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos. Para qualquer esclarecimento sobre este serviço ou para transmitir alguma sugestão, contacte-nos através do endereço: mensageiro@oasrn.org, ou visite a página www.oasrn.org.

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