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SITUAÇÃO-CRÍTICA
ANDRÉ TAVARES, Pelouro Comunicação

11.AGO.2002
 

A crítica combate a solidão. Porque exige a construção de uma relação entre a “obra” e o crítico ela constitui-se como a forma mais explícita de manter viva a “obra”. Ao estabelecer uma relação, a “obra” vai depender do crítico para ver revelada a sua essência e novos aspectos do seu sentido e o crítico vai recorrer à “obra” como instrumento de descodificação da sua própria realidade.
Acção da razão para o conhecimento, a crítica pressupõe a elaboração de um “juízo de verdade”. Assim se afasta da celebração colectiva de uma ideia dogmática. Ao estabelecer um juizo, por princípio, valoriza uma ideia ou um sentido e impulsiona, consequentemente, o par acção-reacção. Agir e reagir são a melhor das mecânicas para propulsionar com energia o progresso do conhecimento e a experiência do saber.
A crítica de arquitectura é quase ausente em Portugal - muito abafada na suposição, através da Teoria, ou na descoberta, através da História - o que deixa aberto o campo da solidão às “obras” de arquitectura. Enredada na sua própria teoria, a discussão pública da Arquitectura é manifestamente dificultada pela ausência de uma relação alargada e aberta do conhecimento disciplinar. Sem relação crítica aumenta a grande incompreensão pública das “razões” dos arquitectos, finalmente expressa no “medo da arquitectura”.
E se quisermos questionar a oportunidade da organização de um seminário num momento em que são tantos e tão complexos os problemas a debater e cuidar no contexto estrito da prática profissional, não podemos esquecer que esses problemas advêm, em grande parte, do desconhecimento e da falta de sentido que muitas vezes se encontra no debate dessas mesmas questões.
É por isso fundamental, inclusivamente para a definição de políticas e estratégias de desenvolvimento da prática profissional, reconhecer o facto simultaneamente objectivo e subjectivo que está subjacente em todas as “obras” de arquitectura. E para revelar esse facto insondável é essencial a relação dialéctica que só a crítica pode estabelecer.
Aguardamos com expectativa a realização do seminário, para que a arquitectura portuguesa se redescubra numa crítica fortalecida e mais frequente. Ao debater o seu “panorama”, os seus “recursos”, as suas “funções” e as suas “influências” está aberto o campo à expressão amorosa e à acção pública da cultura arquitectónica, para que se conheça melhor e se valorize o sentido de transformação física e social que a arquitectura contém.



in Informação Arquitectos, Boletim Mensal da Ordem dos Arquitectos, nº 116, Setembro 200

 
 


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