Não consigo deixar de sentir alguma vergonha, quando consulto a bolsa de emprego e, salvo raríssimas excepções, todas as solicitações de mão de obra estão dirigidas para os recém licenciados.
Não posso chamar de mão de obra barata, porque a intenção do solicitador é não pagar um cêntimo, ou seja, a designação correcta seria - mão de obra escrava.
A malta nova até aceita porque tem um estágio para cumprir, infligido pela ordem, e depois...no ano seguinte já são arquitectos, já podem partir para o maravilhoso mundo da procura de emprego.
Coloco-me muitas vezes esta questão:
Qual será o Arquitecto Europeu que consegue conceber, ter alguém a trabalhar e a produzir com toda a convicção, partindo do principio que não lhe vai pagar nada, NADA, nem um cêntimo?
Só o Tuga e sabem porquê?
Porque continuamos a não ser educados;
Porque só pensamos no lucro imediato;
Porque só nos preocupamos em resolver as coisas que nos surgem agora e o futuro logo se vê; Porque continuamos a não querer perceber, que as coisas só mudam quando olharmos para esta questão como sendo um problema de todos e QUE TEM que se travar AGORA, HOJE, JÁ.
E então?
Então safam-se alguns que já tem carteira de clientes ou que não têm escrupulos e chamam a si todos os anos jovens lacaios, acabadinhos de sair da escolinha, obdientes ceguinhos para obter um papelzinho no fim do estágio, onde está escrito que são "Arquitectos" por direito.
O resto da malta que não tem estes principios de vida escreve na procura de emprego a dizer que tem 5, 6 10, 20 anos de experiência e que se alguém, por acaso tiver alguma restiazinha de trabalho para passarem a computador, ficam eternemente agradecidos pois pode ser uma oportunidade para deixarem de trabalhar no MCdonald's (entenda-se que não tenho nada contra quem trabalha no MCdonald's)
SERÁ, meus caros colegas de profissão, que é difícil perceber que isto é um ciclo vicioso que não tem fim, e que só faz com que a profissão seja cada vez mais desvalorizada?
Alguém conhece um eng. civil a sair da escola e demorar mais de um mês a ter emprego, perto de casa, com uma remuneração justa à sua experiência de trabalho e qualificação profissional?
É que se conhecem digam-me que eu garanto trabalho já amanhã, seja de estruturas ou de construções. Tou a falar a sério, emprego a receber, dinheiro, euros, independentemente da experiência profissional, estado civil, credo ou religião.
Meus senhores quem trabalha deve receber o justo pelo seu trabalho, nem mais nem menos.
Se a desculpa é a esfarrapada de sempre, que estão a aprender e que não têm experiência, pelo menos transportes e alimentação muito embora eu não consiga acreditar que a produção de um estagiário seja 0.
O resto fica com a vossa consciência....
Por um futuro melhor!
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